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Entrevista com o professor Renato Emerson sobre a nova diretoria da ANPUR (2025-2027)

Publicado em 09/07/2025

CATEGORIAS: Boletim IPPUR, Destaques, Notícia PPGPUR, Notícias, Slideshow PPGPUR

Boletim nº 88, 09 de julho de 2025

Mariana Guimarães – graduanda em arquitetura e urbanismo pela FAU UFRJ 

Tainá Farias – mestranda em Planejamento Urbano e Regional pelo PPGPUR

 

Durante o XXI ENANPUR, ocorrido em maio deste ano, em Curitiba (PR), a Assembleia Geral 2025 da ANPUR elegeu a nova diretoria da Associação, para a gestão 2025-2027. De acordo com o estatuto, a ANPUR é composta pela Assembléia Geral, uma Diretoria e um Conselho Fiscal, sendo que a diretoria inclui a Presidência, a Secretaria Executiva, a Secretaria Adjunta e Quatro Diretores. 

A nova chapa eleita conta com o professor Renato Emerson, do IPPUR, como um dos diretores. A composição completa da chapa é a seguinte:

José Ricardo Faria (PPU/UFPR) – Presidente

Letícia Gadens (PPU/UFPR) – Secretária Executiva

Karina Leitão (FAU-USP) – Secretária Adjunta

Heleniza Campos (PROPUR/UFRGS) – Diretora

Benny Schvarsberg (PPGFAU/UnB)- Diretor

Renato Emerson dos Santos (IPPUR/UFRJ) – Diretor

Lindijane Almeida (PPEUR/UFRN) – Diretora

 

Conselho Fiscal: 

Gisela Cunha Viana Leonelli (IAU-USP), Agnes Silva de Araujo (PPGTU-PUCPR) e Evaldo Gomes Junior (PPGPAM-UNIFESSPA) – titulares

Rogério Allon Duenhas (PPGPGP-UTFPR), Cidonea Machado Deponti (PPGDR-UNISC) e Luis Claudio Krajevski (4P-UFPR) – suplentes

 

O professor Renato concedeu à Agência IPPUR uma entrevista sobre o processo de formação da chapa e as perspectivas da nova gestão. Confira a seguir!

 

Formação da chapa e composição da nova diretoria

Agência IPPUR: Como se deu o processo de construção da chapa que agora compõe a diretoria da ANPUR? Como surgiu o convite para integrar essa composição, e o que te motivou a aceitar esse projeto?

Prof. Renato: Bom, a ANPUR tem uma tradição em que normalmente quem organiza o evento em uma gestão assume a presidência no biênio seguinte. A última ENANPUR foi organizada em Curitiba e pelo professor José Ricardo Vargas de Faria, que começou a constituir essa composição que vai assumir agora a entidade. Ele me fez o convite porque nós já temos alguma relação de proximidade acadêmica, participamos de redes de trabalho sobre o planejamento conflitual juntos, nos conhecemos desde o tempo em que ele estava fazendo doutorado no IPPUR e temos afinidades políticas. Outro fator foi a minha experiência na Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), que também me motivou a aceitar esse projeto. Eu tive 20 anos de militância na Associação dos Geógrafos Brasileiros, ocupei diversas posições, inclusive fui presidente da AGB no biênio 2012-2014. Então eu tenho muita crença na importância das entidades científicas como ferramentas de disputa dos campos acadêmicos, eu acho que as entidades científicas têm um papel importante na constituição dos campos acadêmicos, são espaços de disputa dos campos. Eu vivi isso na AGB, onde nós disputamos uma série de práticas acadêmicas; não só o papel da entidade, que representava os geógrafos, mas o papel da entidade para o próprio campo. Isso me levou a aceitar esse projeto de integrar a ANPUR, agora que eu estou no IPPUR e, portanto, também com uma atuação no campo do planejamento urbano e regional.

Agência IPPUR: A nova diretoria reúne pessoas de diferentes regiões e instituições. Você poderia comentar um pouco sobre a diversidade da chapa e o que isso representa para o campo de PUR hoje?

Prof. Renato: Bem registrado isso. A diversidade, na verdade, me parece que foi um projeto dessa chapa. A composição que foi liderada pelo professor José Ricardo Vargas de Farias já teve, na sua base de composição, esse projeto de uma diversidade regional. Assim temos pessoas das diferentes regiões do país. O projeto contemplou também uma diversidade de áreas, não só dentro do campo PUR: temos pessoas mais ligadas ao planejamento e estudos urbanos e urbanismo, mas também integrantes da área de [desenvolvimento] regional, que é algo importante para o programa e para a concepção que queremos trabalhar nessa chapa. Mas, além disso, há também uma diversidade de formações. Uma coisa que foi muito comentada entre nós é que, em algumas gestões, houve uma maioria muito forte de pessoas com formação no campo da arquitetura. Mas o campo de PUR é um campo multidisciplinar, então essa formação atual prezou também por trazer pessoas de diferentes campos de formação, o que vai permitir que a entidade também fortaleça os seus diálogos com as diversas disciplinas. No meu caso, por exemplo, o campo da geografia, então isso é um dado importante também. E, além disso, também se prezou pela diversidade de gênero e raça, mais de gênero do que de raça, já que eu sou o único negro nessa composição. Mas isso foi um dado colocado: trazer o debate sobre a diversidade também para dentro da própria composição. E essa dimensão de gênero e raça, que são agendas emergentes no campo acadêmico de PUR, também foi um dado importante. A ideia é que a composição expresse isso e que a composição defenda isso, que a composição coloque isso como algo importante e positivo para o campo de PUR.

Agência IPPUR: A ANPUR é uma associação bastante reconhecida no nosso campo, mas nem sempre todo mundo entende bem o papel da diretoria. Você pode explicar o que faz a diretoria da ANPUR e como ela atua no dia a dia? 

Prof. Renato: Bom, essa é uma pergunta que é colocada hoje para todas as entidades do campo científico. Eu vivi isso na AGB também. Muita gente inclusive acha que o papel das entidades é apenas organizar os eventos das áreas. Mas o fato é que as entidades científicas são importantes veículos de identidade dos campos acadêmicos, veículos de integração dos campos acadêmicos e veículos da própria construção do campo enquanto campo. Então, as entidades, através dos diálogos que elas promovem, que não são só os eventos, têm um papel importante de construção do campo enquanto campo. A gente está falando aqui do campo de PUR que, no caso do brasileiro, não constitui uma graduação. Portanto, a entidade acaba tendo um papel importante na constituição do campo. É diferente, por exemplo, de campos como geografia, como arquitetura, como economia, como ciências sociais, que são campos departamentalizados dentro das estruturas universitárias. No caso do planejamento urbano e regional, não é. Nós temos cursos de pós-graduação de planejamento urbano e regional. Temos alguns cursos de graduação em urbanismo, por exemplo, mas não temos isso como algo presente dentro das estruturas universitárias brasileiras, como departamento vinculado a um curso de graduação. Então, a ANPUR tem um papel fundamental na própria construção da identidade do campo, ou seja, um conjunto de atores, sujeitos, com diálogos entre si, e que se constituem como identidade de atuação também. Nesse sentido, a entidade acaba funcionando, não do ponto de vista institucional, mas do ponto de vista político e acadêmico, também com uma voz desse campo para fora, evidentemente respeitando a diversidade interna do campo, inclusive ideológica. Mas a entidade vai fazer disputas sobre qual é o papel desse campo, qual o escopo do campo, trazendo para outros atores – da sociedade, do Estado, de movimento social e de lutas – a importância desse campo de atuação. A entidade realiza reuniões periódicas de diretoria e opera na constituição do evento bianual e de outros eventos, como seminários, que ela organiza no período da gestão.

É importante agregar neste ponto que a entidade também reage às dinâmicas que vão ocorrendo e que envolvem ou não o campo. Então, as entidades se posicionam em questões importantes para a nossa ciência, as entidades dialogam entre si. A ANPUR é uma entidade importante no diálogo com a Academia Brasileira de Ciências, com a SBPC, que é a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e junto aos órgãos institucionais do nosso campo acadêmico, CNPq, CAPES, etc., além, evidentemente, dos órgãos vinculados ao planejamento urbano e regional. A entidade dialoga com esses órgãos também como voz do campo para fora.

Agência IPPUR: Qual será exatamente sua função como diretor? Há alguma frente específica que você pretende acompanhar mais de perto?

Prof. Renato: Bom, formalmente, a composição da diretoria tem presidente, uma secretaria executiva, uma secretaria adjunta e quatro diretores. Na nossa composição, tirando o presidente, que evidentemente tem um papel distinto, o que a gente espera é construir uma participação ativa e colegiada de todos e todas as integrantes da diretoria. Então, essa diferença de cargos não vai se traduzir em uma diferença tão substantiva em termos de atribuições. Isso é o que a gente planeja fazer. A minha frente específica na nossa composição tem a ver com a agenda da democratização do acesso à universidade. Eu venho fazendo, já há algum tempo, esse debate sobre a questão racial, a partir dessa busca da constituição de políticas e formas de promoção social da igualdade, desde a minha militância nos anos 90, no curso pré-vestibular para negros e carentes que preparava pessoas para disputar o ingresso da universidade. Depois, como professor da UERJ, que eu fui de 2000 a 2018, eu vivi o período da discussão e da implementação das cotas raciais na universidade, coordenei um programa, que foi o Programa Políticas da Cor, e agora estou no IPPUR, que é um programa que tem uma política importante de acesso e permanência. Então a minha frente específica vai ser essa, que é uma das frentes que compõem o programa que essa chapa nova pretende para a diretoria.

 

Perspectivas e prioridades da nova gestão da ANPUR

Agência IPPUR: Quais são as principais frentes de atuação que a nova diretoria pretende priorizar neste biênio?

Prof. Renato: O plano dessa diretoria é disputar o campo. Então, a própria composição da diretoria já foi pensada junto a uma agenda bastante ampla, que envolve, primeiro, a unidade do campo de PUR. Isso é uma preocupação nossa, com uma aproximação maior entre as temáticas urbanas, regionais e territoriais, principalmente em eventos, mas também pensando em estratégias de diálogos com as entidades regionais e metropolitanas. O segundo ponto da nossa agenda é uma aproximação latino-americana, por meio da articulação com associações de outros países da América Latina de planejamento urbano. Nós temos a ANPUD¹, a ACIUR², SAPLAT³, enfim, uma série de entidades, e nós pretendemos, inclusive, fazer um primeiro encontro de direções dessas entidades. Não seria ainda o encontro latino-americano de planejamento urbano e regional, mas o encontro de direções das entidades para tentar fortalecer e ampliar a circulação e difusão de saberes, construindo uma agenda de pesquisa e ação latino-americana. Um terceiro ponto da nossa agenda é estimular a articulação entre programas de pós-graduação regionais. De um lado, pensamos a escala latino-americana, de outro lado, pensamos a escala intranacional. A ideia é tentar fortalecer mecanismos de articulação regional entre programas de pós-graduação que são territorialmente próximos, fortalecendo esses programas como atores na discussão das realidades particulares e os aproximando das instituições que tratam dessas dimensões de política urbana, regional e territorial. Uma quarta agenda é pensar a relação da pós-graduação com o sistema de avaliação, que é uma questão que vem preocupando a todos e todas nós. Mas queremos fazer essa discussão sobre o sistema de avaliação e seus impactos na pós-graduação pensando a valorização de práticas acadêmicas com enraizamento e comprometimento com a transformação social. Pensando, por exemplo, a valorização da extensão junto a grupos em luta pela cidade, pelo território, com essa dimensão mais politizada e tentando se contrapor a uma tendência de burocratização que é trazida pelos sistemas de avaliação. Uma quinta agenda é o fortalecimento e a valorização da diversidade interna do campo, destacando suas dimensões positivas. Estamos pensando, aqui, no aumento da diversidade, e faço referência à agenda – que eu já mencionei – da democratização do acesso e permanência na universidade, não só na pós-graduação. Como indiquei, desde 2003, nós temos cotas raciais na UERJ, que foi a primeira universidade a implementar um programa de cotas raciais. Depois da Lei 12.711/2012, a política chegou ao sistema federal de ensino e, após isso, vem, nos últimos anos, chegando à pós-graduação, ainda hoje, por iniciativa própria de alguns programas ou de algumas universidades. Temos algumas universidades que têm políticas próprias de ação afirmativa, cotas raciais, sociais, entre outras. Por fim, hoje nós temos uma lei que dispõe sobre cotas nos concursos públicos, de modo que temos uma política de cotas que estimula a diversidade também na docência. Então, isso é uma agenda que a gente quer tentar fortalecer no campo. Ainda há uma percepção muito forte no campo de que isso afronta princípios, como mérito, etc. Tanto na minha experiência de mais de 20 anos com essa agenda, como nas nossas avaliações institucionais do próprio IPPUR, o que temos percebido é que, ao invés disso, essas políticas, na verdade, fortalecem a instituição, trazem mais diversidade de pensamentos, de perspectivas, de experiências sociais, de trajetórias sociais, e isso fortalece e enriquece o campo. Essa é uma agenda que queremos tocar também na entidade. Uma sexta agenda é ampliar os posicionamentos públicos da entidade frente às intervenções, conflitos e políticas que são concernentes ao urbano, regional e territorial. Quer dizer, fortalecer o papel da ANPUR como uma entidade que se posiciona politicamente. E, por último, eu quero reforçar algo já mencionado, que é a entidade tentar contribuir para a valorização de práticas acadêmicas com repercussão social. Repercussão social crítica, transformadora, e não práticas acadêmicas que são voltadas para apelos produtivistas e essas distorções que são geradas, ou comportamentos que são induzidos, pelos sistemas de avaliação. Nesse sentido, queremos tentar fortalecer no campo a natureza social da universidade como um bem público.

Agência IPPUR: O próximo ENANPUR já foi aprovado para acontecer em Brasília. Vocês já começaram a se organizar para esse próximo encontro?

A resposta é não e sim. Não, porque nós ainda não tomamos posse. A posse vai ocorrer apenas no mês de agosto. E sim, porque um dos nossos diretores, que é o professor Benny Schvarsberg, do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, é o presidente da Comissão Organizadora do próximo ENANPUR. Então, o próximo ENANPUR já está no nosso horizonte pela própria composição da diretoria, mas nós não tomamos posse ainda.

 

IPPUR e contribuições para a ANPUR

Agência IPPUR: O que você acredita levar da sua trajetória no IPPUR, um programa de forte histórico de atuação crítica e engajada, para o espaço da ANPUR? A atuação na diretoria é também uma oportunidade de projetar os debates que vêm sendo trazidos pelo IPPUR? E como realizar esse cruzamento de experiências respeitando a pluralidade de pensamentos que compõem a associação?

Prof. Renato: Sim, eu sou cria do IPPUR: fui bolsista de iniciação científica do IPPUR nos anos 1990, entrei no mestrado do IPPUR em 1994, depois iniciei o doutorado no IPPUR, fui concluir em outro lugar, e agora eu sou docente da instituição. Então eu sou muito “cria”, entre aspas, do IPPUR. Tenho na minha trajetória essa marca do IPPUR como um programa formativo, crítico e – na minha experiência de IPPUR desde a iniciação científica – muito fortemente vinculado às lutas sociais, portanto, com uma inserção social e territorial muito forte. Eu espero levar isso, mas acho que isso já está presente. Eu não sou o único egresso do IPPUR nesta diretoria, é importante dizer isso. Nós temos outros egressos do IPPUR, o professor Ben Schwarzberg é egresso do IPPUR, o professor José Ricardo Vargas de Faria também. Espero levar para a diretoria as perspectivas trazidas pelo IPPUR – que, acredito, já estão presentes na própria constituição dessa composição – mas evidentemente dialogando com a diversidade do campo. Essa diversidade é um dado que nós conhecemos, são mais de 70 programas de pós-graduação. O IPPUR é um dos primeiros programas, é um programa fundador do campo e da entidade ANPUR, então é um programa importante. É fundamental não perdermos de vista esse protagonismo do IPPUR na constituição do campo e da ANPUR, mas evidentemente sabendo dialogar com o quadro contemporâneo de uma diversidade de um campo que tem, hoje, filiados à entidade, mais de 70 programas de pós-graduação. Então temos que dialogar com isso também.

Agência IPPUR: A gente tem visto crescer a interdisciplinaridade entre o campo das políticas públicas, as ciências sociais e debates sobre justiça urbana, raça, clima, gênero… Você acredita que a ANPUR tem espaço para fortalecer ainda mais esses diálogos?

Sim. Tendo em vista o papel que a ANPUR tem como construtora do campo, acho que a entidade pode ser veículo do compartilhamento de experiências entre programas de pós-graduação, entre pesquisadores, entre grupos e laboratórios de pesquisa também, que já vêm fazendo esses debates. Esses debates trazem desafios temáticos, teóricos e metodológicos, mas sobretudo desafios políticos e epistemológicos à produção de conhecimento. São temas que vêm sendo absorvidos apenas recentemente e de maneira ainda incipiente pela universidade, pela academia. Acho que a entidade pode e deve – essa é a nossa intenção – ser um veículo para fortalecer essas agendas e para romper com resistências que existem no campo e com diagnósticos imprecisos que existem sobre a absorção desses temas que, na verdade, são o desdobramento do pensamento crítico, dialogando com uma gama cada vez maior de entidades e de grupos sociais que lutam contra as forças hegemônicas, mas que muitas vezes são incompreendidos dentro do próprio campo do pensamento crítico. Esse é um dado importante porque vemos a reprodução de leituras distorcidas dessas lutas e sobre os efeitos que essas lutas têm sobre o campo acadêmico, que eu reputo como efeitos muito positivos para o campo acadêmico. Então nós queremos enfrentar essas agendas, sim, nessa gestão.

Agência IPPUR: Para encerrar: pensando no que você considera os principais desafios no campo de PUR hoje, tanto no âmbito acadêmico como no diálogo com a sociedade, como você espera que essa nova gestão possa contribuir? E qual o papel que você espera exercer nesse processo?

Prof. Renato: Essa nova gestão já foi construída com o espírito de construção política crítica e transformadora. Eu considero que as agendas que nos desafiam são, em primeiro lugar, a unidade do campo. Ampliar e trabalhar essa unidade frente à diversidade do campo, a diversificação, é o primeiro desafio. O segundo é ampliar e intensificar a visibilidade e a incidência da produção de conhecimento do campo PUR na própria formulação e implementação de políticas públicas, em todas as escalas – nacional, mas também regional, estadual, distrital e municipal. O nosso campo é um campo importante de políticas públicas, um campo importante de articulação de políticas públicas. Afinal, estamos falando de recortes do território e temos uma tendência hoje de fortalecimento de políticas transversais, tendo recortes territoriais como o objeto e locus dessa transversalização frente à compartimentação temática que rege a organização da estrutura do Estado brasileiro na constituição de políticas públicas. Acho que o nosso campo tem um papel fundamental nessa diretriz de integração de políticas setoriais. É um desafio nosso fortalecer a nossa incidência e visibilidade nas políticas públicas. O terceiro desafio nosso é intervir mais em fóruns governamentais, nas arenas e esferas públicas e na interlocução com diversos atores, agentes, entidades, coletivos, movimentos sociais, enfim, grupos populares que intervêm e interagem na arena e na constituição de políticas públicas. Para mim, é especialmente importante o debate sobre a democratização, sobretudo a democratização racial do campo. O nosso campo ainda é um campo muito branco, marcado por uma branquitude. Diversos programas possuem apenas docentes brancos e brancas, o que significa reuniões mensais com colegas apenas brancos, e um convívio mínimo com uma diversidade, talvez maior entre discentes. Creio que alguns programas não tenham nenhum discente negro ou negra, ou não branco, para ampliar o nosso leque de classificações raciais. Eu acho que isso é um dado que leva muita gente a ser reticente às políticas de ações afirmativas, considerando o medo do diferente, do inesperado. Além de ser possível, evidentemente, em certos casos, pensar que algumas pessoas prefiram manter os privilégios da branquitude. Mas eu quero crer que não, que temos pessoas comprometidas com a transformação social e com a promoção da igualdade na nossa sociedade. É com isso que a gente conta e é isso que a gente disputa. E acho que isso é uma contribuição que eu posso trazer por essa minha trajetória como militante do movimento negro, desde o pré-vestíbular para negros e carentes nos anos 1990, como ex-professor da UERJ, com 18 anos de docência na UERJ, primeira universidade a ter cotas raciais, e agora como docente do IPPUR também. É importante dizer que o IPPUR tem uma política importante de acesso e permanência no PPGPUR, desde 2016, se não me engano, e que vem transformando positivamente a instituição. Não vejo ninguém se posicionando contra essa política de acesso e permanência que o IPPUR tem. Há algumas divergências internas, que não são posições contrárias, mas divergências em termos de ajuste das políticas. Assim, temos praticamente um consenso sobre a positividade das transformações que essas políticas vêm provocando dentro da instituição, e eu creio que eu posso contribuir de alguma maneira nessa parte da gestão da ANPUR, para uma maior consolidação desse debate no campo de PUR em escala nacional.

  1. Asociación Nacional de Instituciones de la Enseñanza de la Planeación Territorial, el Urbanismo y el Diseño Urbano (México)
  2. Asociación Colombiana de Investigadores Urbano Regionales (Colômbia)
  3. Sociedad Argentina de Planificación Territorial (Argentina)

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